Um dia, sentada à beira de um “Grand Canyon,” observando a vulnerabilidade da vida diante do sopro do vento que me conduzia para o penhasco, senti um arrepio na espinha. Rapidamente, minhas escolhas se tornaram pequenas e fúteis diante daquela imensidão.
Uma imensidão que refletia como um espelho na minha alma vazia. Contradições entre o bem e o mal, a mentira e a verdade, a dor e a felicidade, a paz e o desespero, a lucidez e a loucura, a vida e a morte.
De nada adianta viver sem vida, de nada adianta a vida sem um objetivo, de nada adianta o objetivo sem resultados e os resultados sem comemorações e conquistas. Um pensamento inesperado emergiu entre as vulnerabilidades e as contradições que construíam histórias, épocas e cenários de maneiras estranhas, contradizendo a realidade.
E por falar em realidade, qual é a sua? Não a realidade que você compartilha, mas a realidade que você esconde nos cenários obscuros dos palcos da sua vida, nas escolhas mais ínfimas.
Foi nesse devaneio de realidade e nostalgia que decidi parar de decidir por você. Vieram à mente todas as vezes em que deixei de ser eu para ser você, todas as vezes em que deixei de me amar para satisfazer um capricho seu, todas as vezes em que deixei de acreditar em mim e de escrever minha própria história para escrever a sua. Todas as vezes em que deixei de sonhar para viver a sua realidade, uma realidade que me consumia mais do que o fogo de um vulcão, mais do que as chamas de uma fornalha.
Minha habilidade de realizar muitas coisas ao mesmo tempo, de me desdobrar para fazer o impossível para lhe fazer feliz, fez com que eu me esquecesse de me fazer feliz. Risos e gritos à beira do “Grand Canyon” me traziam de volta à vida como uma corrente elétrica disparando diretamente na minha alma, como uma flecha que ultrapassa a razão e a lucidez.
Nesse momento, percebi que a atitude do menino inseguro já não existia mais. Havia apenas um homem florescendo em sua essência e existência, que não precisava mais de um tutor ou mentor.
Então, respirei profundamente, pois me faltava oxigênio e coragem para romper as correntes e amarras. Respirei novamente e me senti perdida naquela imensidão do “Grand Canyon”. Olhei para o infinito, e ele me respondeu que a imensidão da escuridão está dentro de mim.
Senti uma faca afiada atravessando minha existência. Naquele momento, o eco ecoava minhas angústias e dores, da falta de escolhas, das indecisões. Por um momento, a vida parecia pequena diante dos pensamentos mais lascivos, reprimidos, requintados e doces aos quais me submeti.
Sim, esta é uma história contada em meio a um espetáculo exuberante da natureza, das profundezas das possibilidades da vida e da morte.
No meio desse cenário, entendi que havia transformado você em um amuleto da sorte, em uma tábua de salvação. A repressão não era sua, era minha. Na verdade, você não precisava de mim, assim como eu não precisava de você. Quem precisava dessa relação era a minha insegurança, meus medos. Quem me aprisionava eram minhas crenças e limitações.
Limitações emocionais onde o grande causador se manifestava com maus tratos físicos, psíquicos e emocionais. A esse causador dei o nome de “Meu Inconsciente,” confundindo-o com você por muito tempo.
Mas nessa relação de dor e rejeição, não era você quem estava errado, era eu mesmo. Espante-se, se puder, e fuja ainda mais do seu próprio causador, ou continue dando a ele nomes diferentes do seu.
Pois na busca, só encontramos quem olha para dentro de si.
Texto de Suzania Cristina Paulino
Parabéns, ótima reflexão.